Apresentação
por Marília Panitz
Glenio Bianchetti foi um artista exemplar, em termos de trajetória, dentro do momento modernista brasileiro e seus desdobramentos. Ligado às suas raízes do sul do Brasil, juntamente com o grupo que se iniciou no Clube de Gravura de Bagé, ele estruturou uma linguagem que falava do seu local de enraizamento para o mundo. Vivenciou fortemente as ideias de um nacionalismo temático (ou, mais precisamente, de um regionalismo) traduzido por uma afirmação ideológica: a arte deve estar onde o povo está. Com a mudança de residência para Porto Alegre e mais tarde para Brasília, onde veio ajudar a fundar o Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília (ICA-UnB), suas formas e suas temáticas foram se abrindo para novos horizontes. Porém, manteve, em seu ofício de pintor-gravador e no seu exercício de professor, o compromisso com a arte acessível às pessoas. Mantinha uma certa aversão à produção erudita críptica que resistisse à leitura daqueles que depositassem o olhar sobre suas telas e papéis.
Mas, na história de Glenio, há uma particularidade que reforça a exemplaridade de seu percurso. E isso foi feito não por ele, mas por Ailema Bianchetti, sua esposa, artista e educadora, que propôs a si a tarefa de documentar a vida de seu marido artista. Ao longo dos anos, Ailema foi compondo uma série de enormes livros, com páginas de 96 cm por 66 cm, onde foi organizando sua colagem de documentos – notícias de jornais, artigos, críticas, fotos, cartas, convites, folders, lembranças de percurso –, iniciada em 1946 e terminada (por enquanto) em 2014, quando Glênio faleceu. A preciosidade desta documentação afetiva e precisa, poderá fazer toda a diferença para pesquisadores, estudantes e interessados em sua obra. É raro encontrar uma quantidade significativa e organizada de informações que tracem o percurso de uma figura pública. Este é o caso de Bianchetti.
Este site foi pensado como forma de tornar este material acessível. A partir da seleção das páginas dos livros de Ailema, procura-se estabelecer uma linha do tempo que acompanhe o pensamento e a produção do artista. Ela é complementada por imagens de alguns trabalhos e estudos que se apresentam como concretização do que está sendo narrado pelas montagens originais.
Este é um primeiro passo de muitos que serão dados explorando a sua poética.
Sejam bem-vindos!